Kim Fowley: “O Guns N’ Roses é a última grande banda da história”



O website estadunidense METAL SLUDGE divulgou essa semana uma entrevista com o notório empresário e produtor musical KIM FOWLEY, que descobriu as RUNAWAYS e por um breve momento foi envolvido com o GUNS N’ ROSES nos primórdios da banda, chegando inclusive a ser cogitado para a produção do primeiro registro fonográfico da banda.

O que segue abaixo é uma compilação de trechos selecionados da conversa.

Sludge: O Guns N’ Roses acaba de entrar pro Rock N’ Roll Hall Of Fame. Qual sua opinião sobre a banda?
Fowley: Era um misto de loucura, genialidade, violência e bondade. Eles viviam no futuro e estavam lutando para sobreviver a sua presença sub-humana, mas eles tinham sonhos futuros sobre-humanos. Eles eram interessantes sob essa perspectiva.

Sludge: Nós fizemos uma entrevista com a primeira empresária do Guns N’ Roses, Vicky Hamilton, e ela parecia lembrar claramente de você oferecendo ao Guns N’ Roses 25 mil dólares por direitos de edição de três das três melhores músicas deles, incluindo ‘Welcome To The Jungle’. Qual sua versão dos fatos?
Fowley: Você quer dizer no apartamento na rua Clarke? Eu não ofereci a eles dinheiro algum por nada.

Sludge: Então…
Fowley: Veja bem, o que rolava na época era: Jenny Price era minha secretária, depois ela virou funcionária de gravadoras e descobriu Jewel para a Atlantic e outras coisas. Na época, ela era minha secretária trabalhando em Burbank, enquanto eu estava vivendo nos arredores de Chicago, mas também tinha um escritório em Los Angeles.

Isso foi antes da internet, claro. Ela e David Carr, que tinha dois títulos de graduação em música, eram quem eu costumava ligar pra saber o que rolava na cena das casas noturnas de Los Angeles. Jenny era uma ruivinha baixinha, linda, com o cérebro de uma mulher de 50 anos, mas aparentava 18, e tinha 21 ou 22 anos naquele tempo. Ela me contou empolgada do Guns N’ Roses, que eles eram deuses e que eu tinha que me envolver. Eu disse ‘OK, me dê o telefone deles’.

Sludge: OK, tô escutando.
Fowley: Ela me deu o número de Izzy. Eu liguei e disse, “Eu sou Kim Fowley, Jenny Price disse que vocês são deuses. Ela disse que vocês são legais e eu estou interessado em trabalhar com vocês.”

Eu perguntei a ele o que ele queria e pra que me enviasse uma demo, e eles tinham uma demo de três músicas. Ele mandou a demo, e a primeira música era ‘Welcome To The Jungle’. Isso foi em 1985, por aí. Eu liguei de volta e disse: “Isso é muito bom.”

Izzy disse: “Você leu minhas exigências?” Ele queria seu próprio trailer privado como aqueles dos anos 20 com uma cozinha e uma sala de jantar com toalhas de tecido e esse tipo de coisa. Isso era bem peculiar. Geralmente eles pedem um avião particular [risos]. Havia um bando de exigências típicas de sonhos de rock and roll em termos de mansões, carros, garotas, jóias, presidente dos EUA, rei do mundo. Como você gostaria de viver? Estava tudo na lista.

Sludge: Interessante.
Fowley: Eu tive que perguntar pra outras pessoas sobre a banda além de Jenny Price e do que se tratava o Guns N’ Roses, e quando eu falei com Izzy, eu disse a ele: “Eu não posso trabalhar com você.”

Ele me perguntou o porquê, e eu disse que era porque as exigências dele era enormes e difíceis. Na época, eu era só um produtor independente fazendo edição musical e manipulação da mídia, meio que um faz-tudo em um escritório pequeno. Eu não poderia pagar salário pra eles, ou custear a vida deles, eu disse isso a eles, e ainda por cima disse a Izzy: “Vocês tem um comportamento radical. Aventuras inesperadas podem respingar em mim, então eu não quero ou preciso desses problemas.”

Sludge: Mas isso não foi o fim, certo?
Fowley: Não. Izzy disse: “Você é esquisito como nós”, mas eu respondi, “Não, eu sou estranho de um modo diferente. Minha estranheza tem lógica e realidade governando o quão esquisito eu posso ser. Você trabalha isso, e eu estou preso a isso, lidando com o equilíbrio das questões do dia a dia.”

Eu simplesmente não precisava daqueles problemas, e eu estava me referindo ao álcool é à cultura das drogas porque eu não uso drogas e eu não bebo, mas esses caras eram cachaceiros e jogados no mundo das drogas, e eu não queria ser parte daquilo. Eu não estava interessado nisso. Izzy disse que estava desapontado, mas eu disse a ele a verdade – que eu não poderia dar conta disso e daquilo, e se ele quisesse entrar pra uma grande gravadora, então ele precisaria de uma equipe de pessoas, não de um cara apenas. Mas eu desejei toda a sorte do mundo pra ele.

Sludge: Bem, em algum ponto da história você acabou na sala de estar deles, procede?
Fowley: Isso foi numa terça-feira, e conversamos de novo na quinta-feira, e daí no sábado seguinte. No último dia, eu estava na banheira, e Izzy ligou implorando pra que eu saísse da banheira porque ele estava tendo uma emergência. Eu disse: “Hey, eu já te disse, não posso trabalhar com você, mas qual é a emergência?” Era sobre três dos caras da banda e provavelmente uma mãe e uma filha, e tinha rolado uma treta na esquina de Sunset com Gardner, onde a banda morava na época nesse buraco, e algo sobre a polícia vindo ou de tocaia na casa, bla bla bla. Os três caras do Guns N’ Roses não queriam ser interrogados, então eles despareceram.

Eu liguei pro meu amigo, Dave Libert, que era empresário e agente em Hollywood. Ele era uma figura, um tour manager do Alice Cooper, um dos maiores nomes do mundo e muito prático. Eu disse a Izzy: “Me deixa ligar para Dave Libert e contar a ele oque está acontecendo.” Pra resumir, Dave e outro cara, Alan Okun, que era um advogado, foram até lá, deram um jeito no problema de um jeito ou de outro.

Então depois, Izzy liga de novo para agradecer, e daí disse que seria ótimo se eu pudesse talvez produzir a banda e ajudá-los a construir uma carreira e merchandise, esse tipo de coisa. Mas como algo diário, cotidiano, eu não poderia fazê-lo. Eu não conseguiria, e eu ainda não queria estar envolvido. A vida é curta demais para passar por stress desse tipo, mas se eu fosse voltar pra Los Angeles, talvez.

Bem, 30 dias depois, eu de fato voltei para Los Angeles como consultor e produtor para uma banda – era a Reform School Girls com um nome diferente. Rolo que Axl Rose era um grande amigo do guitarrista. Naqueles tempos, todas as bandas, elas eram todas cachaceiras que brigavam na rua e tinha namoradas strippers e zoavam apartamentos, e se elas tivessem cabelo tingido de preto, elas estavam em vantagem.

Enfim, eu estou no estúdio um dia e Axl aparece pra visitar. Ele me diz: “Todo mundo está falando sobre você e como você é bom.” Ele disse que alguém tinha oferecido 50 mil pra banda mas ele disse não porque ele achava que o Guns N’ Roses poderia fazer mais. Mesmo naquele tempo, Axl sabia que haveriam milhões de dólares vindo pelo correio um dia, e ele estava certo. É por isso que quando alguém tinha uma oferta para fazer para ajudar a banda, ele dizia tchau e bom dia.

Sludge: Então você estava interessado?
Fowley: Bem, nessa época em Los Angeles, todo mundo estava falando sobre o Guns N’ Roses e como essa banda iria ser gigantesca. Eu fui até a casa de Vicky Hamilton na Rua Clarke. Eu disse a ela que a banda tinha me mandado uma demo em Illinois, e que Axl tinha vindo me ver no estúdio, e que éramos colegas agora. Eu disse a eles que não tinha o dinheiro que eles pediam, fosse a curto ou longo prazo, mas ali eu já tinha visto eles ao vivo, e eu realmente achei que eles seriam muito famosos. Eu disse: “Só o que eu posso fazer é conseguir dinheiro de gravadoras para vocês. Eu não posso pagar vocês diretamente como eu não posso pagar a mim mesmo diretamente tão pouco.”

Então Axl diz, “Bem, dão 3 da tarde, você consegue trazer gente das gravadoras aqui pra esse apartamento até as 6?”

Eu achei que o entusiasmo dele tinha que significar algo, então eu liguei para Ron Fair na Chrysalis e a assistente dele, e eu liguei pra algumas outras pessoas, na Capitol, e disse, “Hey, é melhor que vocês contratem essa banda até amanhã.”

O cara da Capitol, Dennis, escreveu uma carta de imediato e a entregou na casa, dizendo que ele contrataria a banda baseado na demo e na reputação dela nas ruas. A banda ficou impressionada por eu ter duas gravadoras interessadas em três horas, e Axl disse: “Wow, Kim, você joga duro. Você tem que fazer com que os caras venham até aqui e talvez esses caras paguem a nós e a você, e vamos assinar um contrato e tudo mais.”

Sludge: E Vicky Hamilton?
Fowley: Vicky Hamilton não gostou muito. Eu me lembro dela me mandando sair do apartamento. Ela disse: “Obrigada, Sr. Fowley, mas eu estou no comando desse projeto, e mesmo que você tenha conseguido três empregados diferentes de duas gravadoras interessados em uma tarde, eu estou no comando. Onde esse grupo de caras está é minha casa, então não traga ninguém aqui. Por favor, saia.”

Era o apartamento dela, ela estava alimentando eles, e ela estava, pra todos os efeitos, empresariando eles, não Libert nem Okun, que eram meus parceiros no lance, e a coisa rolou rápido demais. Eu disse, “Ah OK, tchau e boa sorte” e fui embora. Eu não poderia continuar. Me senti mal com aquilo.

Vendo agora, talvez valesse a pena a treta que eu teria que encarar, meio que como Malcom McLaren, mas com um resultado diferente. Mas a outra metade de mim dizia não, eu não preciso desses problemas.

Sludge: Essa é uma versão bem diferente da que ouvimos de Hamilton.
Fowley: É a verdade. O que eu ganhei? Meu nome no encarte de “Appetite For Destruction” como agradecimento especial, e apareci em alguns livros. Se minha memória fosse melhor, talvez eu pudesse contar mais, mas havia muita gente no campo do Guns N’ Roses antes deles ficarem famosos, e eu fui uma delas. Ele ficaram monstruosos.

OK, o que aconteceu com Kim Fowley: Eu tive sucessos antes do GNR, e depois deles se separarem, eu tive mais êxitos. Minha carreira continuou em um padrão irregular, mas eu tinha orgulho das Runaways e de produzir a trilha sonora de ‘American Graffiti’ e por ter os direitos de edição musical do Mötley Crüe e do Blue Oyster Cult e compor com o Kiss, Alice Cooper, Steppenwolf, Blue Cheer, Leon Russel. Como compositor, eu tive músicas gravadas por todo mundo desde o Led Zeppelin até o Nirvana, então eu tive uma carreira que deu certo pra mim, pelo menos ganhei discos de ouro e platina. Eu me sustentei com isso e estabeleci meu nome com 53 anos no ramo musical, sete filmes sendo lançados. Eu sou ator também, e estou em um novo filme sobre a Sunset Strip que estreou no South By Southwest algumas semanas atrás, e deve ser lançado ao grande circuito em breve. Eu também sobrevivi a quatro cânceres. Eu ganhei muito dinheiro com composições. Me dei bem.

Sludge: Você acha que haverá outra banda como o Guns N’ Roses?
Fowley: Não, eu acho que Hollywood tem uma história, e uma vez que você a escreveu, é como a Bíblia – se você voltar e olhar, vira sal. Você não retrocede nessa cidade ou você vira sal. Biblicamente, uma vez que o Guns N’ Roses se tornou o Guns N’ Roses, não havia razão para lidar com mais ninguém até onde eu esteja apreciando e gostando da banda. Eles estavam ocupados demais com as pessoas da equipe deles, seja lá quem acabou fazendo isso em definitivo, e ocupados demais com suas carreiras e estilos de vida individuais.

Eu apenas fui alguém que achou que eles eram bons e tentou se envolver por três horas em uma ocasião, e daí fui cuidar da minha vida. Mas eu lembro sim da noite que Axl recebeu o cheque dele da Geffen. Ele entrou no Rainbow enquanto eu estava jantando com um amigo e veio até mim. Ele disse, olha isso, e era um cheque de 37,500 dólares assinado para o Guns N’ Roses, um cheque da Geffen. Ele estava com ele na carteira. Ele me perguntou o que eu achava daquilo.

Eu disse a ele que ele deveria me pagar um jantar, mas ele disse que era de noite, então ele não tinha como descontar o cheque. Eu acho que paguei um hambúrguer ou um sanduíche pra ele e disse: “Eu fico muito feliz por vocês, Axl. Bom pra vocês.”

Que situação estranha não ter dinheiro no bolso, mas estar com um cheque de 37500. No dia seguinte, ele foi ao banco.

Em outra vez, antes disso, eu tinha trombado com Axl e Vicky Hamilton em outro restaurante, o Ben Franks. Eu disse a Axl naquela noite que ele ia ter sucesso, mas que ele deveria ter cuidado com a fama e a fortuna e com o que ele sonhava. Eu achava que Axl poderia ser o filho de Marlon Brando e Janis Joplin, ele parece com o pai e canta como a mãe. Eu nunca vi Izzy e Duff de novo, mas Steven Adler sempre foi amigável, sempre me cumprimentava no Rainbow. Slash sempre foi gentil comigo, mas não saímos juntos.

Sludge: Considerações finais?
Fowley: o Guns N’ Roses foi a última banda de rock do século 20 que significou algo. Eles foram a última. Eu não considero o Nirvana uma banda de rock and roll. O Guns N’ Roses é a última grande banda de rock and roll da história. Ninguém pode tirar o lugar deles. Quando haverá um novo Guns N’ Roses? Não fique esperando. É como Elvis. Nunca, creio eu.


Retirado de : playadelnacho



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